Opinião Sobre Tudo: A diferença é o respeito

Muitas pessoas acham que o Brasil é o pior país do mundo, que países como os Estados Unidos, Canadá, Inglaterra e Austrália são paraísos e sonham com conhecer ou até se mudar para estes países. Esta visão predominantemente é de quem nunca viajou para outro país. Por já ter morado e viajado diversas vezes ao exterior, devo concordar que, em alguns aspectos, são melhores mesmo que o Brasil. Mas nem tudo são flores e de perto, a realidade é bem diferente. Existem diferenças sim e ao fringir dos ovos, são diferenças significativas que tornam o resultado final da comparação dos aspectos positivos e negativos bem mais positivo em certos pa’ises e a mais importante delas é o respeito. Mas dizer que a diferença é o respeito é muito vago, muito genérico. Em que existe mais respeito do que no Brasil? Bom, vamos começar por respeito básico, simples, que aprendemos em casa. Quando era criança, meus pais me ensinaram a respeitar os mais velhos, a cumprimentar as pessoas e dizer “por favor” e “obrigado”. Hoje em dia, ao menos onde eu moro, as pessoas não se falam, não se cumprimentam, não pedem por favor e não agradecem. Não há cortesia, muito menos gentileza. Ontem eu estava voltando para casa e em certo momento, vi uma casal de adolecentes tentando atravessar a rua. Eu desacelerei, parei o trânsito e sinalizei para que atravessassem. Não recebi sequer um obrigado. Na semana passada, eu estava no mercado e cedi a vez para uma senhora em frente a uma prateleira. Ela torceu o nariz, pegou o produto que queria e foi embora. Eu entro em um elevador e todos estão olhando para o painel. Se eu digo “bom dia”, alguns respondem, irritados, e outros ignoram.

Mas isso por si não faz um país melhor que outro. O respeito se extende à vida. Ao atravessar a rua em uma faixa de pedestres no Canadá, os carros param quando é a vez do pedestre. Não somente param, param a uma distância em que o pedestre não se sente pressionado ou ameaçado, e esperam pacientemente você passar, sem acelerar ou buzinar. Somente quando você está claramente fora de qualquer possibilidade de perigo é que aceleram. Da mesma forma, os pedestres só atravessam quando é sua vez, e não tentam andar no meio dos carros, tornando a travessia um desafio aos motoristas. Se alguém se distrair por um segudo, pode atropelar um pedestre atravessando no meio dos carros, no local errado. Isto é respeito com a vida. Ontem eu estava em um shopping com um amigo e ele mal desacelerava quando via pedestres andando pelo estacionamento. Certa hora, passou bem perto de uma mãe com seus filhos. Não parou na faixa de pedestres e ficou irritado quando eu critiquei esta atitude dele. Será que quando ele é o pedestre, com sua famiília, ele não critica os motoristas que fazem isto com ele?

Respeito à vida pode ser muito mais do que apenas parar em uma faixa de pedestre. Quando morei no Japão (lembre-se que isso foi no início da década de 80!), certa vez minha irmã passou mal. O hospital onde precisava ir era do outro lado da cidade de onde moravamos. Para piorar, eram 18h, hora do rush. Chamamos a ambulância, mas a sensação entre todos da família era de pessimismo. Como uma ambulância atravessaria a cidade e voltaria a tempo de medicá-la? Parecia impossível, pois em no máximo 1 hora ela entraria em coma. Para nossa total surpresa, em no máximo uns 10 minutos, os paramédicos estavam na porta! Enquanto levavam minha irmã, o motorista estava informando a rota que estaria tomando. Neste meio-tempo a central de emergência acionava a polícia para liberar vias (contra-mão, calçadas, não importa!) para a passagem da ambulância. Como em uma operação militar bem executada, a ambulância chegou no hospital em cerca de 15 minutos, sem ter que parar em uma esquina sequer. Minha irmã foi atendida a tempo. Isso é respeito com a vida.

Eu comprei um carro há pouco tempo. Me dei ao luxo de comprar um carro novo. Pouco tempo depois, vejo um artigo na internet mostrando uma comparação de preços do Corolla em três países. No Brasil o carro custa US$ 37.636,00, na Argentina US$ 21.658,00 e nos EUA US$ 15.450,00. O carro é o mesmo, sai da mesma fábrica, mas o “custo Brasil” é de mais de 100% em cima do valor nos EUA, onde vendem o carro por um preço justo por não ser considerado um “artigo de luxo”. A mesma coisa acontece com microcomputadores, eletrodomésticos e eletrônicos. Isso é respeito para com o consumidor. Onde está o respeito para com o consumidor Brasileiro?

Eu pago IPTU, IPVA, Pedágio e outras taxas, e estou mencionando somente as obviamente relacionadas a ruas e estradas. Não vi  nos Estados Unidos ou no Canadá ruas esburacadas como as que trafegamos diariamente no Brasil. As ruas consertadas não tinham remendos vários centímetros mais altos que o resto da rua, como acontece aqui, onde a empresa que “conserta” as ruas parece não ser capaz de remendar um buraco no mesmo nível da rua existente. Com o tempo, a rua se torna pior que estrada de terra em época de chuvas, com buracos e trechos mais altos por conta destes remendos. E pior, somente em Curitiba tive o disprazer de conhecer o “anti-pó”, esta desculpa esfarrapada que usam pra roubar mais o dinheiro do povo.  Tenho certeza que pagamos por asfalto mas recebemos “anti-pó”. Isso é falta de respeito com a população que merece melhor.

Mas o pior exemplo de falta de respeito vem dos nossos líderes, de nossos dirigentes e representantes. Em um país onde um médico, que passou 10 anos estudando e se especializando, ganha menos de 2 mil reais para salvar vidas em um hospital público enquanto um deputado ganha 26mil, 13 vezes mais, não posso acreditar que haja respeito. E ainda se sentem no direito de “desviar verbas” (roubar).

Você, leitor, deve achar que roubar é feio, fica indignado com o desvio de verbas e com a corrupção. Mas eu te pergunto então, o que você faz a respeito? Você faz mais do que reclamar para os amigos, coisa que não gera resultado algum? Vamos reduzir a escala, quando vai a uma loja ou mercado e recebe o troco errado, recebe mais do que deveria, você volta e devolve o dinheiro? Se acha uma carteira ou celular na rua, procura devolver? Se você respondeu não, que direito você tem de achar errado roubar? Você também rouba. Você é aquele que ultrapassa pelo acostamento enquanto todos estão parados esperando na fila e se acha “o esperto”? Você estaciona sem pagar o estacionamento e acha ruim quando leva uma multa? Você respeita as leis de trânsito? Você já comeu uma bala em uma loja e saiu sem pagar ou comeu algo no mercado sem pagar por isso? Então você precisa aprender que o respeito começa em pequena escala.

Eu até acredito que o Brasil será o país do futuro, mas vai demorar muito tempo. Precisamos aprender ainda o que é respeito, aprender a respeitar as leis, por mais banais que sejam e, principalmente, aprender a fazer a nossa parte. Quando atingirmos este patamar, teremos o direito de exigir integridade de nossos políticas. Se então exigirmos este respeito do governo, o país começará a mudar. Até entendermos que o respeito começa com um bom dia, não deixaremos de ser o país do “jeitinho”, da corrupção e do desrespeito.

Quer saber mais sobre respeito? Leia sobre o transporte público no Canadá. Nem mesmo nos EUA existe uma confiança tão grande na honestidade da população.

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5 thoughts on “Opinião Sobre Tudo: A diferença é o respeito

  1. Eu imagino que o que ocorre com o “cerumano” é uma espécie de efeito manada. As pessoas nos outros países são mais educadas e respeitam as leis porque já havia um grupo considerável assim, fazendo com que os outros copiassem. Garanto que muitos canadenses que respeitam as leis o fazem por mero reflexo, instinto. Afinal eles cresceram fazendo isso.

    No Brasil, talvez pela desinformação, democracia tardia, maus colonizadores, e desigualdade social, nunca existiu um grupo expressivo de cidadãos modelo para serem copiados instintivamente. Muito pelo contrário, aqui temos é que lutar contra nossa cultura para sermos melhores.

    Com isso em mente, temos que pensar se o brasileiro é simplesmente mal intencionado ou só está fazendo de maneira instintiva aquilo que todos fazem.

    Comigo isso aconteceu saindo do Mato Grosso (sigla MT, e não MG, para constar) e vindo para Curitiba. Em Cuiabá as pessoas não tem consciência de jogar o lixo nas lixeiras, e muitas vezes nem há lixeiras por perto. A cidade é suja e fedida, que só piora com o calor infernal. Eu obviamente imitava o que todos faziam e jogava o lixo em qualquer lugar, sem pensar à respeito. Em Curitiba eu tive um choque cultural e pelo fato de todos jogarem o lixo nas lixeiras, não há como eu fazer diferente, e criei mais este bom hábito. Inclusive, separo o lixo doméstico com mais rigor que muitos curitibanos.

    O desafio é sair dessa inércia por conta própria. Acho que as pessoas vão aos poucos melhorando conforme são expostas a culturas melhores, como foi meu caso do lixo em Curitiba.

    Quem sabe alguns curitibanos vão a Cuiabá e aprendem a se cumprimentarem no elevador…

  2. Na verdade, acredito que o pessoal até se cumprimenta. Talvez não tão efusivo ( ainda mais de manhã, com todo mundo meio dormindo …. ) , mas o “bom dia” em voz baixa é equivalente ao bom dia escandaloso dos baianos, óxente….

    Mas que falta respeito, falta. E eu sugiro que é porque, ao pensar em fazer apenas coisas que beneficiem a si próprias, as pessoas muitas vezes não percebem que ter um pouco mais de consideração pelos outros e pelo que está ao redor é em benefício delas próprias também ( dar para receber ) . A gentileza que eu faço no trânsito é a mesma gentileza que alguém vai fazer quando eu precisar cruzar as 4 5 pistas da Visc. de Guarapuava ( porque fui desatento e esqueci de escolher a pista certa, detalhes .. )

  3. Falou e disse.
    E de fato vai levar ainda MUITO tempo pra que as coisas mudem… afinal, a origem e o resultado de toda essa cultura atualmente é a ignorância. E é de interesse dos governantes que a ignorância predomine. Mas quem sabe agora com acesso cada vez mais fácil à internet as coisas mudem um pouco mais rápido. Duvido, mas… quem sabe.

  4. Fantástica sua observação Fernando, realmente eu concordo em parte com o que falou. Mas isso só se aplica a pessoas que conseguem desenvolver um interesse em se melhorar. Nossas escolas deveriam estimular isso, mas infelizmente não é sempre o caso. Ontem eu estava falando com a Ana Coelho e ela me contou que quando era criança,aprendeu na escola que era errado jogar lixo pela janela do carro. Ela aprendeu a lição e tentava ensinar para sua mãe fazer o mesmo, pois sua mãe jogava embalagens pela janela. É claro que podemos e devemos aprender e evoluir, mas muito poucos de nós o faz sem algum tipo de estímulo.

    Dito isso, devo mencionar um fato que eu esqueci de incluir no meu artigo. Muita da disciplina e respeito é, como você disse, cultural e herdada de gerações que já se comportavam assim, mas isso aconteceu porque as pessoas nestes países não têm quase que por instinto, como no Brasil, o conceito de que se existe uma regra, você é “esperto” e deve quebrá-la. As pessoas respeitam as regras e desde pequenos aprenderam que existem regras e devem ser respeitadas. Mas o respeito não se dá somente por aprendizado em casa e na escola. Existem autoridades, como a polícia, para fazer cumprir as leis e existem punições para quem transgride as leis. Aqui no Brasil e, em especial, em Curitiba, não vejo punição. Se eu infringir uma lei, nada acontece 99% do tempo. Já vi pessoas cometendo infrações de trânsito em frente a um carro do Diretran e nada fizeram. Pessoas estacionam onde bem entendem e nada acontece. Os únicos casos que vejo de punições bem aplicadas são quando estacionamos nas zonas “Estar” no centro ou aplicadas pelos radares automáticos de velocidade. Fora isso, nunca vi a lei ser feita cumprir por um policial aqui.

    Ontem mesmo eu parei em uma faixa de pedestres em frente a uma escola para uma família atravessar e no outro sentido, passaram uns 10 carros antes que alguém parasse, permitindo que eles atravessassem com segurança. Veja que estamos evoluíndo, antigamente, buzinariam e me xingariam. Já é a segunda vez que eu paro em uma faixa e alguém segue o exemplo, então vamos começar a dar o exemplo para ver se educamos nossos compatriotas.

  5. Silvio, você está certo. E Curitiba tem mudado, talvez pela influência da Internet ou de pessoas que se mudaram para cá de outras regiões do Paraná e do Brasil. Hoje já consigo olhares menos bravos quando cumprimento alguém, seja com um aceno da cabeça ou com um sonoro “bom dia”. 😀

    Quem sabe se dermos o exemplo, as pessoas sigam?

    Yara, infelizmente você tem razão, nossos governantes querem “gado” para governar. É mais fácil. Com a globalização e a inclusão digital, há uma esperança disso mudar, mas dependerá da sua geração e das gerações seguintes dar o exemplo para os mais velhos. Foi assim na Austrália e vejam hoje que país maravilhoso. Começaram com ladrões e bandidos e hoje são um dos melhores lugares para se morar do mundo, se a gente desconsiderar os hooligans. Risos

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