Há vários anos, desde que voltei para Curitiba, venho sofrendo os efeitos do famigerado horário de verão. Literalmente de um dia para o outro, somos obrigados a ajustar nossos relógios biológicos e nossas vidas em uma hora. Será que isso não afeta nossa saúde? O horário de verão foi implementado para economizar energia? E economiza?

Em pleno século XXI, onde temos energia elétrica para fazer o que quisermos na hora em que quisermos, ainda seguimos alguns rituais préhistóricos como acordar cedo, começar a trabalhar pela manhã, parar para o almoço, sair no final do dia e ir para casa, dormir em um certo horário. Até onde isso é necessário? Será que nossos corpos realmente precisam deste rítmo?

Precisamos sim. Pesquisadores já provaram que uma vida regular é essencial para boa saúde. O sono dormido à noite, sem os raios do sol, é ideal, onde descansamos realmente. Pessoas que trabalham em turnos longos ou que trabalham à noite sofrem os efeitos deste estilo de vida, que prejudica à saúde.

Dito isso, ponho em foco o horário de verão. Muitos acreditam que foi instituído para economizar energia elétrica. Outros acham que é só para aproveitarmos mais o dia, tendo sol até horário em que estaria escuro. No meu caso, o horário de verão serve para atrapalhar minha vida e saúde. Eu passo todo o verão com sono, letárgico e de mau humor. Esta pequena mudança repentina de uma hora afeta os horários em que como, horários em que tomo meus medicamentos e meu sono. Somente quando acaba é que volto ao normal.

Em 2012 estamos seguindo um conceito de 1907, quando foi proposto o horário de verão por um construtor londrino, membro da Sociedade Astronômica Real, chamado William Willett (1856-1915), que deu início a uma campanha para diminuir o consumo de luz artificial ao mesmo tempo que estimulava o lazer dos britânicos. Vale lembrar que naquela época, o custo de luz artificial era bem mais alto e logo em seguida, tivemos guerras onde todos tentavam economizar ao máximo para financiar os esforços de guerra. Mas isso já tem MUITO tempo.

Embora o objetivo inicial de sua invenção tenha sido o melhor aproveitamento da luz do sol pelos inglêses e o aumento do lazer da população, no Brasil, único país do hemisfério sul a adotar o horário de verão, não há economia de energia elétrica e nunca foi este o objetivo. No caso do Brasil, a economia de energia elétrica não é considerada o fator predominante. Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a motivação de se estabelecer esse dispositivo no Brasil é pela segurança do sistema.

Durante os meses do verão ocorre um aumento na demanda de energia, o que é particularmente percebido por volta das 18h, quando as pessoas retornam para seus lares e ligam luzes, chuveiros, condicionadores de ar, fornos, etc. Esse também é o horário em que a iluminação pública é acionada. O aumento brusco da demanda pode ter impacto negativo na estabilidade do sistema elétrico.

Ao se adotar o horário de verão brasileiro ocorre um deslocamento na entrada da iluminação pública (devido à iluminação natural, ainda presente), que passa a não mais coincidir com a chegada das pessoas em casa após o trabalho. Por causa de fatores como este o aumento da demanda se dá de forma mais gradual, o que melhora a segurança do sistema, segundo o ONS.

Economia só no Sul
Verifica-se uma economia de energia nos Estados da região Sul (até 5% de redução da demanda integrada durante o consumo de pico), porque essas localidades estão inteiramente ao sul do Trópico de Capricórnio.

Porém, nos Estados da região Nordeste e, principalmente, da região Norte, a variação de luz solar anual é insignificante – o que não justifica a adoção do horário de verão nem mesmo para melhorar a segurança do sistema.

Dia de 25 horas
Sempre que começa um horário de verão, isto é, quando se subtrai uma hora do dia, adiantando os relógios em uma hora, causamos um desconforto físico (por afetar nossos relógios biológicos) e psicológico (por causar a sensação de perda de tempo).

Quando ele termina, ao contrário, temos essa hora que nos foi tomada de volta e a ilusão de um dia com 25 horas. É uma ilusão porque na verdade estamos apenas nos reajustando à natureza. Novamente, temos um choque físico e psicológico e novamente nossos relógios biológicos precisam se ajustar.

Para pessoas com doenças como diabetes, que têm horários fixos para comer e tomar remédios todos os dias, este ajuste é complicado e afeta todo o controle de suas doenças. Com um número cada vez maior de diabéticos no Brasil, talvez seja hora de rever esta prática.

Em conclusão, adotar horário de verão no Brasil é uma medida arbitrária e o único benefício é proteger um sistema energético que deveria estar preparado para esta situação. A economia é irrisória e localizada e não justifica prejudicar a saúde da população para proteger um sistema energético que não comporta o consumo do país.