Technotudo: 1991 – O ano em que o mundo ganhou a GUI

Em 1991, o mundo conheceu a GUI (Graphic User Interface) ou “Interface Gráfica” e o mundo da informática nunca mais foi o mesmo.

A revolução da interface gráfica mudou a maneira com que usamos os microcomputadores. Sem ela, será que haveria hoje um número tão grande de microcomputadores e um mercado tão vasto, com avanços tão grandes como nos últimos 20 anos?

Hoje em dia, interface gráfica é tão comum que poucos usuários sabem usar um computador sem ela. Pense se o seu micro apresentasse uma tela preta com caracteres brancos ou verdes, parecido com a janelinha do prompt de comando do Windows. Imagine que não exista mouse, que todos os comandos devem ser digitados seguidos de Enter. Este era um mundo sem jogos, filmes, seriados, música ou áreas de trabalho enfeitadas com suas fotos favoritas.

Apesar da interface gráfica ter sido apresentada ao mundo em 1984 com o lançamento da Apple do Macintosh, seu alto preço limitou o seu uso e fatia de mercado. A revolução viria 6 a 7 anos depois, com a guerra dos sistemas operacionais, eventualmente vencida pela Microsoft com o Windows.

Vamos voltar no tempo e relembrar algumas destas maravilhas pré e pós interface gráfica!

Se você conheceu todos, é velho como eu!

MS-DOS 5

Em 1991, PCs rodavam predominantemente o sistema operacional Microsoft DOS. DOS é acrônimo para Disk Operating System. Ao contrário dos OS (sistemas operacionais) atuais, onde a GUI (Graphical User Interface – Interface Gráfica) é padrão tanto para o OS quanto para as aplicações, a GUI e os OS eram produtos separados. Embora muito primitivos para os padrões de hoje, o DOS era um OS modo caractere de 16-Bits e não permitia executar várias tarefas ao mesmo tempo (multi-tarefa ou multi-tasking). O sistema de arquivos FAT poderia ser usado tanto em disquetes quanto nos discos rígidos e tinha uma limitação de 11 caracteres para nomes de arquivos, dando origem ao format  “8.3” de nomes de arquivos, por exemplo AUTOEXEC.BAT.
Além do Microsoft DOS, a IBM tinha sua própria versão, o PC-DOS, que rodava exclusivamente em sua linha PS/2 de computadores pessoais. A Digital Research, que foi pioneira no final da década de 70 com o precursor do DOS, o CP/M (Control Program for Microcomputers – Programa de Controle para Microcomputadores), também lançou seu próprio OS compatível com o DOS, o DR-DOS, que eventualmente passou a ser propriedade da Novell e posteriormente, da SCO.
DESQView

DESQView

Quarterdeck DESQview

Desenvolvido pela Quarterdeck Office Systems, o DESQView foi um “shell” (um programa que faz a comunicação direta entre o usuário e o sistema operacional) muito popular para o DOS, que permitia fazer uma forma muito primitiva de multi-tarefa, rodando vários programas ao mesmo tempo. Isto permitiu que programas de produtividade como o Lotus 1-2-3, WordPerfect e Harvard Graphics fossem executados ao mesmo tempo, podendo o usuário alternar entre eles. Em conjunto com um programa especial de gerenciamento de memória chamado de QEMM para PCs baseados em processadores Intel 286, 386 e 486, foi possível usar mais do que os 640k de memória da arquitetura da época e rodar vários programas, carregados na memória, ao mesmo tempo.

DESQView, que foi lançado em julho de 1985 — poucos meses antes do Windows 1.0,  não foi o primeiro sistema para rodar várias tarefas para PCs — este feito é de autoria da IBM com o TopView, que nunca atingiu números de uso significativos. DESQView em si logo se depararia com a concorrência do Windows 386 e am 1990, o Windows 3.0, que era um verdadeiro GUI multi-tarefa. Em 1992, a Quarterdeck finalmente lançou uma versão GUI, o DESQView / X, mas já era tarde demais. A Microsoft já havia tomado controle dos mercados de OS e GUI com o DOS com Windows 3.1 e seu conjunto de aplicativos Office.

Lotus 1-2-3

Lotus 1-2-3

Lotus 1-2-3

Talvez o primeiro programa fantástico para PCs, o Lotus 1-2-3, uma planilha eletrônica em modo caractere para DOS, ainda reinava em 1991, apesar do Microsoft Excel já ter sido lançado e estar no mercado por vários anos rodando sob Windows, Mac e OS/2. Em 1989, a Lotus lançou a versão 2.2, que usava “Memória Expandida” para permitir que os usuários tirassem o máximo proveito da capacidade aumentada de memória dos chips Intel 286 e 386.

Em 1990, o Lotus 1-2-3 tinha 54% do mercado, com o Excel bem atrás em 12%. O Lotus 1-2-3 tinha vários concorrentes no espaço entre ele e o Excel, incluindo o Quattro Pro da Borland. Embora o 1-2-3 continuasse a ser popular por vários anos. Contudo, seu reinado chegou ao fim com a popularização do Windows 3.1 e o Excel.

Algum tempo depois, a Lotus produziu uma versão gráfica para Windows como parte do pacote SmartSuite (que incluia também o editor de textos Ami Pro e o aplicativo de apresentações Freelance Graphics), mas nunca conseguiu retomar a posição dominante no mercado. Logo sumiu do mercado.

WordPerfect

WordPerfect

WordPerfect 5.x for DOS

Embora  o Microsoft Word para Windows seja o editor de textos dominante da atualidade, em 1991 ele era muito pouco conhecido. Para qualquer uso sério, o editor de textos WordPerfect da WordPerfect Corporation, editor em modo caractere como o Lotus 1-2-3, era o mais usado por profissionais e empresas.

O WordPerfect e seu formato de arquivo continuaram a dominar o mercado mesmo após o Word para Windows começar a ganhar em popularidade porque apesar de não ser um editor gráficos WYSIWYG (What You See Is What You Get – O que você vê é o resultado final) — apesar de que mais tarde seria lançada uma versão que poderia alternar entre modo caractere e modo gráfico — você tinha um controle muito preciso sobre a formatação, importante quando você estava criado documentos complexos usando os códigos especiais. Para colocar caracteres em negrito, por exemplo, o usuário digitaria ^bPalavra^b.

O WordPerfect demorou demais para produzir uma versão para Windows e sofreu as consequências perdendo sua liderança no mercado para o Microsoft Word. Depois de alguns anos, o WordPerfect foi vendido para a Novell, e depois para a Corel Corporation, que ainda mantém uma versão atual do produto.

IBM OS/2 2.1.1

IBM OS/2 2.1.1

IBM OS/2 2.0

No segundo semestre de 1991 e até ser disponibilizado para o público em 1992, a IBM apresentou a primeira grande revisão do seu OS gráfico, o OS/2 2.0. Esta versão foi uma melhoria significativa porque ao contrário do DOS e Windows, o OS/2 foi o primeiro OS gráfico completo, e naõ dividido em dois programas, que era capaz de rodar multi-tarefas em “threads” (linhas de processamento) separadas, que rodava nos processadores Intel 386 em modo 32-bits protegido usando modo protegido ao invés de 16-bits com memória compartilhada usado pelo Windows. Por este motivo, o OS/2 era um sistema operacional extremamente estável comparado com o Windows 3.0 e o DOS, que eram conhecidos por travarem constantemente nos primórdios da computação em GUI.

Ao contrário do gerenciador de programas do Windows 3.x, o OS/2 também incluia uma área de trabalho para usuários orientada a objetos conhecida como WorkPlace Shell (WPS) que permitia aos programas escritos para este OS a usarem componentes do OS reutilizáveis. Em muitos aspectos, o OS/2 WPS ainda é considerado mais avançado do que o que existe nas versões modernas do Windows hoje — o Mac OS X da Apple e o Linux KDE 4.x se aproximam a esta tecnologia.
O OS/2 foi o primeiro sistema operacional a integrar virtualização, que permitia criar uma máquina virtual DOS (Virtual DOS Machine – VDM) com aplicações que poderiam ter suas configurações distintas como se tivessem rodando em máquinas completamente separadas, e em um ambiente DOS multi-tarefa. Era realmente o melhor de sua classe de software.
O OS/2 2.0 rodava também programas para Windows 3.0, o que era tanto uma benção quanto uma maldição. Rodava os aplicativos Windows melhor do que o Windows porque ele era capaz de rodar programas em sessão com memória protegida, evitando que eles travassem uns aos outros ou ao sistema operacional como um todo, como acontece até hoje com o Windows. Contudo, por ser capaz de fazer isso tão bem, houve muito pouco incentivo em criar programas específicos para este OS com o WPS.
Apesar do OS/2.0 ser tecnicamente superior ao DOS e Windows 3.0 em todos os aspectos, houve um marketing muito fraco, suporte limitado a dispositivos e o fato de que ele precisava mais memória do que um PC com Windows típico da época, então era reservado para usuários mais avançados e aplicações especializadas que preciavam dos avanços, robustez e estabilidade do OS/2. Logo, em meados da década de 90, muito do nicho de mercado do OS/2 foi absorvido pelo Windows NT da Microsoft.
Microsoft Windows 3.0

Microsoft Windows 3.0

Microsoft Windows 3.0

Apesar de que a Microsoft tenha lançado a primeira versão do Windows no final de 1985, o produto nunca relamente decolou até sua versão 3.0, lançada em 1990, que trouxe várias melhorias, a mais importante das quais sendo a memória virtual e drivers para dispositivos virtuais. Com a versão 3.0, os programas para Windows poderiam rodar em Modo Protegido em processadores 286 e 386 da Intel, permitindo a programas que rodam em GUI do Windows terem acesso aos vários megabytes de memória quando usando o gerenciador de memória DOS EMM386.

Embora o Windows 3.0 não tenha sido nem de longe tão sofisticado quanto o OS/2 da IBM, o marketing muito superior da Microsoft acabou sufocando o concorrente. Isto aliado com a habilidade da empresa de convencer desenvolvedores de software a produzirem milhares de programas para Windows e o pacote office , que se tornara muito popular, garantiram ao Windows o domínio do mercado. Chegado final de 1990, a empresa havia vendido mais de um milhão de cópias  e ao longo da próxima década, a Microsoft ganhou muitos bilhões de dólares, expandindo sua fatia de mercado residencial e empresarial a uma escala global.

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