Há mais de 10 anos, nos mudamos para Curitiba por ser uma cidade como poucas no Brasil. As ruas eram limpas, as pessoas em geral evitavam jogar lixo nas ruas, a cidade era organizada e apesar da falta de calor humano, era uma das melhores cidades para se morar no Brasil. Mas isso tudo mudou.

Há algum tempo, temos tido arrombamentos nas casas da região onde moro, tida como uma boa região até pouco tempo atrás. Sofremos com pequenos furtos e grandes prejuizos decorrentes dos pés de cabra e pedras usadas para roubar migalhas. O motivo do desespero é simples: drogas. Nos últimos 12 anos, venho testemunhando um aumento exponencial no uso de drogas, em especial, o crack. Os viciados fazem qualquer coisa para conseguir mais uma pedra, então roubam o que está fácil e quando isto acaba, começam a roubar de forma mais agressiva.

Cerca de dois anos atrás, eu estava fechando a janela por volta de 23h quando notei um sujeito vindo pela rua carregando um portão de ferro sobre a cabeça. Ele não me viu, felizmente, pois fiquei tão surpreso com aquela cena que segui ele com os olhos até sumir de vista. No dia seguinte, descobrimos que ele havia roubado o portão de uma casa para trocar por drogas. Esta mesma casa, vazia e à venda, já havia sido saqueada e soubrara pouco mais do que as paredes e telhas. Haviam levado até as louças de banheiro.

O aumento das drogas é em parte culpa de uma sociedade complacente que assiste estas cenas sem tomar qualquer atitude ou exigir qualquer ação do governo. Todos reconhecem, tanto aqui como em todas as cidades do país e do mundo, que o crack e as drogas são um problema crescente, mas ninguém faz nada para impedir a epidemia. Culpamos as autoridades quando conversamos no ônibus, no ponto ou no trabalho durante o intervalo, mas ninguém liga para o disque-denúncia ou pressiona um vereador ou um deputado, muito menos um senador ou o presidente da república, pessoas eleitas e que são pagas (MUITO bem) para resolver estes problemas. Enquanto assistimos em berço esplêndido, não percebemos que há mais de 10 anos não há concurso para a polícia. O efetivo diminui a cada dia e ninguém se dá conta de que o tráfico está ganhando a guerra.

Este problema não é só em Curitiba. Se fosse, seria fácil de resolver, mas eu moro aqui e sinto uma tristeza muito grande vendo o que no passado foi um ótimo lugar para morar virar um Rio de Janeiro. Os Cariocas que me desculpem, mas fizeram a mesma coisa com a cidade maravilhosa. A reação veio muito tarde e hoje não acredito que haja como reverter os danos de anos de impunidade e conivência da sociedade.

Como se os furtos não fossem motivo suficiente para revolta, hoje acordei com os cães latindo desesperadamente e barulhos que pareciam fogos de artifício. Logo a mente clareou e percebi que eram tiros. Acordamos com um tiroteio há duas quadras da minha casa. Será a polícia enfrentando bandidos? Mais provável que tenham sido bandidos brigando entre si, uma guerra entre traficantes ou qualquer coisa que o valha. Não ouvi sirenes. Ninguém veio para defender os cidadãos. Mas também, com a falta de equipamentos, armamentos ultrapassados, carros caindo aos pedaços e salários de fome, você interferiria?

Hora de parar de reclamar para os amigos e começar a reclamar com quem deveria estar fazendo algo à respeito, antes que seja tarde demais.