Opinião sobre tudo: Denial of a City

O dicionário American Heritage define denial nos termos da psicologia como uma recusa em aceitar ou acreditar em algo tal como uma doutrina ou crença. É um estado inconsciente, um mecanismo de defesa caracterizado pela recusa em se aceitar realidades, pensamentos ou sentimentos dolorosos.

Na minha opinião, a cidade de Curitiba sofre de uma recusa coletiva de que é uma cidade fria! Talvez seja resultado de algum desafio lançado há muito tempo em que alguma pessoa desafiou a outra a nunca dizer que em Curitiba faz frio e isto virou inconsciente coletivo, propagado eternamente. Talvez seja um desejo inconsciente de ser uma cidade quente.

O fato é que a cidade é fria boa parte do ano. Temos alguns meses de calor e alguns outros de tempo agradável, mas em sua maioria, é fria, igual a inúmeras outras pelo Brasil e pelo mundo. Não há como negar este fato. Além do frio, chove. E muito. É uma cidade fria e chuvosa. Longe de ser uma cidade quente e tropical, como acredito que todos gostariam que fosse. No entando, estas pessoas que têm este desejo consciente ou inconsciente de morar em uma cidade quente não se mudam.

O que me leva a esta conclusão é uma análise das contruções modernas da cidade. Vejam as casas construídas nos últimos 30 anos e compare com aquelas construídas pelos colonizadores e gerações passadas. Há 150 anos atrás, energia elétrica não era abundante. Não havia central de gás e muito menos gás encanado. Não se falava em isolamento térmico ou comforto térmico, mas os antigos já sabiam o que fazer para não congelar no inverno. Curitiba era uma cidade muito mais fria e aqueles que habitavam a terrinha há muito tempo desenvolveram tecnologias que tornavam as casas agradáveis e até quentes no inverno. Não havia preocupação com o verão, pois este durava pouco e não era tão quente.

Eu admito que o clima tem mudado, mas não o suficiente para justificar as construções dos últimos 30-50 anos. Antigamente, construiam as casas elevadas para não subir a umidade e frio do solo. Usavam estuque ou outros materiais para criar isolamento térmico nas paredes, que eram de madeira, já mais quente que alvenaria. Todas as casas tinham lareira ou fogão a lenha, para gerar calor e aquecer a casa e ficava aceso até o final do inverno, às vezes por todo o ano. Não se via pessoas em casa com vários casacos, cachecol e sentindo frio dentro da própria casa.

Há algum tempo fui visitar uma amiga e além de todos de casaco dentro de casa, haviam baldes para segurar a água das goteiras. Mas na garagem tinha um carro zero quilômetro, mostrando as prioridades da família. Algum tempo depois ela e mais alguns amigos foram até minha casa para um jantar e se admiraram como era quentinho dentro da minha casa. Passei a contar como tive que usar espuma para isolar as janelas, pois são janelas de cidade quente onde passa vento entre as folhas e há frestas por má instalação. Isolei as portas também com espuma adesiva no portal e um isolador embaixo do lado de fora para reter a água da chuva e com aquela cobrinha de areia pelo lado de dentro. Isolei ainda frestas e buracos nas paredes e forro por onde escapava calor. Com isto e um aquecedor a óleo, consegui aquecer a casa, que era construção antiga, feita com elevação de 30cm do chão e com um grosso carpete em cima das tábuas antigas, que eram isoladas e por onde não subia vento.

Todos ficaram admirados e alguns começaram a pensar em aquecer suas casas.

No prédio onde trabalho, que deve ter seus 20-30 anos também, até há isolamento nas janelas, mas as copas e banheiros têm uma janela fechada com uma persiana de alumínio que não abre nem fecha. Usar o banheiro no inverno implica em vestir todos os casacos e proteções que usou para vir do carro até a empresa e depois tirá-las para voltar ao trabalho. Isto para não mencionar que não há água quente nas torneiras, tornando o ato de lavar as mãos uma tortura nos dias bem frios. Lavar louças então? Nem pensar, lavo em casa, onde tenho água aquecida na torneira.

Alguns anos atrás eu fui ao Canadá. Reparei como as construções são feitas para aguentar o frio e o calor, reparei que ninguém usa casaco dentro de casa ou do trabalho e que todos os carros têm ar condicionado e aquecimento de fábrica. Reparei como as janelas são painel duplo ou triplo de vidro e algumas com um gás este os painéis que impede a passagem do frio. As portas são isoladas, com borrachas e espumas, e sempre abrem para fora para o vento não poder empurrá-las para dentro. Os prédios, lojas e construções em geral têm portas duplas para deixar o frio lá fora. Em todas as torneiras, há água quente – água esta que é até usada para aquecimento do imóvel usando radiadores.

Voltando para o Brasil, comentei com um colega sobre toda esta tecnologia e ele comentou que não precisa ir até o Canadá. No Rio Grande do Sul, de onde ele vem, já usam este tipo de tecnologia há muito tempo. Todas as casas são isoladas e projetadas para o frio. Pretendo viajar para o RS para comprovar isso, mas quem já foi atesta, lá não se passa frio dentro dos imóveis.

Diante de tudo isso, só posso chegar à conclusão de que a cidade inteira sofre de uma recusa coletiva em aceitar que a cidade é fria, de um desejo inconsciente de morar no litoral, no calor, e deixaram-se levar por este desejo, construíndo casas e edifícios como se estivessem em um local quente, sem ventos cortantes e gelados. Os Curitibanos que se manifestem e defendam porque deixaram paulistas e (possivelmente) baianos construírem imóveis aqui como se estivessem em casa!

 

de·ni·al

n.

1. A refusal to comply with or satisfy a request.
2.

a. A refusal to grant the truth of a statement or allegation; a contradiction.
b. Law The opposing by a defendant of an allegation of the plaintiff.
3.

a. A refusal to accept or believe something, such as a doctrine or belief.
b. Psychology An unconscious defense mechanism characterized by refusal to acknowledge painful realities, thoughts, or feelings.
4. The act of disowning or disavowing; repudiation.
5. Abstinence; self-denial.

[From deny.]
The American Heritage® Dictionary of the English Language, Fourth Edition copyright ©2000 by Houghton Mifflin Company. Updated in 2009. Published by Houghton Mifflin Company. All rights reserved.
Share